sexta-feira, 23 de maio de 2008

A polêmica das estações

Antonio Pereira, um senhor beirando os 60 anos, é o administrador da Estação Iguatemi desde 1998. É subordinado à Superintendência de Transporte Público (STP, entidade ligada à prefeitura, que gerencia as estações de transbordo da cidade). Ele deu o seu parecer a respeito da presença dos baleiros nas estações.
- Os baleiros têm permissão para vender apenas nos ônibus, não nas estações. A presença deles nas estações é irregular. Porém, não podemos atuar contra eles, pois não temos efetivo suficiente para isso. Dispomos apenas de três seguranças para cuidar das instalações. Os baleiros atrapalham o trânsito dos usuários das estações.
Nesse mesmo dia, encontrei o fiscal da Secretaria Municipal de Serviços Públicos (SESP, outro órgão da prefeitura que atua nas estações), Fernando Souza. Ele garantiu que o trabalho de fiscalização serve para evitar acidentes com os pedestres.
- Não queremos proibir, mas só queremos que os baleiros trabalhem em locais seguros, cumprindo a lei.
As polêmicas não param por aí. A prefeitura liberou o cadastramento de apenas mil baleiros, sobre a alegação de que há somente 2 mil ônibus circulando na cidade.
- Não consegui me cadastrar ainda. Dizem que a prefeitura suspendeu o cadastramento, pois já tem mil baleiros inscritos. Acho que tá havendo enrolação. Eles só colocam os conhecidos. Ainda não tenho dificuldades, pois pago a minha passagem. Se não fosse isso, os motoristas me barrariam!
O baleiro Antônio Gilson, comentou esta situação devido ao fato que a Unibal enviou um ofício para as empresas de ônibus, solicitando que os motoristas não permitissem a entrada de baleiros sem crachá e colete. Mas, toda essa burocracia não impede que os baleiros continuem criando as suas expressões, jargões e entonações particulares, para a publicidade de seus produtos.

Desenhos: Carlos Eduardo Freitas Voltar

Legalização dos baleiros

Existe atualmente uma satisfação dos baleiros em exercer essa “profissão”. Desde 2005 a prefeitura de Salvador viabilizou o cadastramento desses vendedores de bala. Esta ação teve a finalidade de dar acesso livre para eles venderem seus produtos nos ônibus da cidade. A decisão foi tomada após sucessivas manifestações dos baleiros. Eles se uniram para reivindicarem a legalização dessa atividade.
O baleiro Luciano Santos Bahia há 10 anos trabalha neste ramo, ele é um dos diretores da União dos Baleiros do Estado da Bahia – Unibal (sindicato formado para servir como representante legal dos vendedores de bala). Luciano fez questão de me explicar toda a situação dessa classe. Eu o encontrei numa das estações de transbordo de Salvador, a do Iguatemi. Essas estações viraram uma espécie de base para os baleiros. O ponto de chegada para o início do trabalho (geralmente começa às 8h da manhã), e de término do “expediente” (entre 18h e 19:30. De segunda a sábado).
- Nós fizemos passeatas, manifestações, fomos à Varella (apresentador de um famigerado programa jornalístico local). Três a quatro meses depois, a prefeitura aceitou a nossa proposta. A Unibal, que fica no bairro de Pernambués, nas proximidades da Madeireira Brotas, é responsável pelo cadastramento dos baleiros. No ato da inscrição, cada vendedor paga uma taxa de R$ 10 e recebe uma guia, um colete e um crachá, que nos permite entrar nos ônibus sem que o motorista bata a porta em nossa cara! Depois, os baleiros cadastrados pagam R$ 5, mensal, para a manutenção do sindicato.
Apesar desse benefício os baleiros pretendem continuar lutando.
- Lutamos para esta medida se estabelecer. O nosso sonho é que baleiro se torne uma profissão formal. Desabafou Luciano.

Desenhos: Carlos Eduardo Freitas

Voltar